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Comunicação
Em 1997, em mares russos, uma vaca caiu do céu e
acertou em cheio um barco pesqueiro japonês, cujos marinheiros tiveram de ser
resgatados. A história, contada no jornal Scottish Daily, parece improvável.
Mas qual será, de fato, a chance de uma vaca despencar de um avião e se
estatelar em uma embarcação?
No Guia do Mochileiro das Galáxias, cômica série de livros de ficção científica
do escritor inglês Douglas Adams, a exploração espacial dos personagens é
agilizada com o uso de um equipamento chamado Gerador de Improbabilidade
Infinita. Acioná-lo acarreta uma sucessão de situações extremamente
improváveis, como uma baleia cachalote caindo do céu. No livro, a mente
criativa de Adams pode parecer imbatível. Mas a vida na Terra tende a
superá-la, até em variedade de absurdos cadentes. Talvez nem o Gerador de
Improbabilidade Infinita proporcionasse tamanho caos na ordem natural dos
eventos. Mas, assim como no episódio da vaca cadente, parece que um aparelho
semelhante é ligado aqui na Terra de vez em quando.
Os chamados eventos raros também podem ser por conta da Distribuição de
Poisson, do matemático francês Siméon Denis Poisson, que diz respeito às
chances de uma série de eventos acontecerem em um determinado período de tempo,
pois suas ocorrências são independentes. “Esta distribuição possui algumas
hipóteses razoáveis sobre o fenômeno aleatório a ser modelado por ela e tem um
parâmetro a se estimar que representa a taxa média esperada por certa unidade
de tempo da ocorrência do fenômeno”, afirma o professor Nei Carlos dos Santos
Rocha, coordenador do curso de Ciências Atuariais da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ). Confira a seguir uma das coisas estranhas que já caiu do
céu.
VACA VOADORA
Mesmo parecendo incompreensível, a queda da vaca tem uma
explicação lógica. Segundo o Scottish Daily, um grupo de oficiais da Força
Aérea Russa adquiriu o insólito costume de roubar gado e transportá-lo em seus
aviões. Em uma dessas “missões”, uma vaca entrou em pânico, começou a se
debater e colocou em risco a estabilidade da aeronave. A saída foi jogá-la de
milhares de metros de altitude.
O professor do Departamento de Estatística da Universidade de Campinas (Unicamp) Sebastião de Amorim, arrisca-se a fazer alguns cálculos. Primeiro, considera-se a dimensão do Mar de Okhotsk, onde navegava o barco japonês, que fica entre o arquipélago de Hokaido, no extremo norte do Japão, as Ilhas Sakalinas e o extremo oriental da Rússia continental. O mar tem uma área total de 1,583 milhões de km², equivalente em extensão ao estado do Amazonas. Para avançar no exercício, as suposições são imprescindíveis. Imagine-se, portanto, que o Mar de Okhotsk estivesse sendo navegado por mil embarcações no fatídico momento, tendo cada uma delas uma dimensão de 50 metros de comprimento por 20 de largura. “Cada barco com 1000 m² de superfície. Todos os barcos totalizariam um milhão de metros quadrados, ou 1 km². Assim, assumindo o já altissimamente improvável evento da queda de uma vaca cair de um avião, a probabilidade de ela atingir uma embarcação navegando por ali é de um em 1,5 milhão. Bem menor que a probabilidade de 20 caras em 20 arremessos de uma moeda”, conclui o professor Amorim.
Dizer que algo é improvável não significa, necessariamente,
que seja impossível. A palavra pode ser usada para definir algum acontecimento
que tem poucas chances de acontecer. O caso da vaca na Rússia, portanto, pode
ser estudado de uma maneira estatística. “Mas o entendimento dessa
probabilidade depende de algumas tecnicalidades da teoria das probabilidades
por meio de uma distribuição chamada Distribuição de Poisson, construída pelo
matemático francês Siméon Denis Poisson, que dá conta dos chamados eventos
raros”, conta o professor Nei Carlos dos Santos Rocha.
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