O Clube Excursionista Carioca, foi fundado em 21 de fevereiro de 1946, é uma sociedade civil sem fins lucrativos e de utilidade pública federal.
Tem por finalidade a promoção de atividades em montanhas (caminhadas e escaladas), o treinamento para tais atividades e ainda a conscientização da importância da conservação do que resta da natureza. Promove ainda, eventualmente, excursões recreativas como em rios (raftings), rapéis de cachoeira, etc. Ao longo destes cinqüenta e tantos anos, o CEC fez inúmeras conquistas (primeira subida por uma determinada rota em uma montanha), promoveu várias atividades voltadas à preservação da natureza, quando quase ninguém sabia o que significava a palavra ecologia, treinou mais de 2000 pessoas em técnicas de montanha e além de tudo isto fez e continua fazendo muitos amigos.
Em 1997 o CEC refez os 5 Pontões em Laranja da Terra (Espírito Santo) de uma só tacada. O grupo de quatro escaladores foi escolhido a dedo, esbanjando técnica, experiência e vitalidade. Assim, Jean Pierre, Ricardo de Moraes, José Ivan Calou e Gustavo Telles venceram Foca, Filhote, Rachado, Grande e Língua de Boi em apenas uma semana, trazendo de volta o livro de cume deste último, deixado lá pelo Carioca desde 1974. O livro só foi trazido de volta porque havia sido mal guardado e estava se acabando com a exposição ao tempo.
Confira aqui as páginas do livro de cume do Língua de Boi, coletando mais de 20 anos de histórias dos escaladores que lá estiveram. Também não deixe de ler o relato da excursão no (http://www.carioca.org.br/ ), um belo texto escrito pelo Jean Pierre.
Para mim, tudo recomeçou em novembro do ano passado com um comentário do Ivan:
-- Em julho nós vamos aos cinco pontões.
-- Também estou nessa -- incluí-me na hora.
Passou o tempo e o grupo acabou definido: Gustavo, Ivan, Ricardo e eu. A época: início de julho. O objetivo: subir os cinco pontões. Um objetivo ambicioso para uma semana de escaladas. Foca, Filhote, Língua de Boi, Rachado e Grande. Não nesta ordem, pois decidimos subir o Rachado em primeiro lugar, por ser fácil e permitir um descanso da viagem ao mesmo tempo que nos ambientaríamos.
Comida comprada, tudo arrumado nos carros (ou quase tudo), partimos domingo às 04:30. Rio, Cachoeiro do Itapemirim (maravilhoso Itabira!), Castelo (Pedra do Fio!), Afonso Cláudio (Três Pontões!) e finalmente, depois de passar por Itaguaçú e Itarana chegamos a Patrimônio de Cinco Pontões em Laranja da Terra, após inúmeras paradas para fotografias. Anoitecia, e os cinco pontões destacavam-se magníficos contra o céu violeta já coalhado de estrelas. Imenso e profundo, o céu daquele sertão, perdido ao pé do Caparaó. Estrelas piscavam no recorte desenhado pela silhueta negra das montanhas. Tudo ainda desafio e esperança...
Hospedamo-nos na casa do Alemão (Jacimar Casa Grande). ótima pessoa, alma ainda maior que o nome, que socorrera o Ricardo e André Ilha após uma espetacular capotagem dois anos antes. Não esperávamos o conforto que, após a longa viagem, foi um bálsamo. Chuveiro precário, mas chuveiro! Quartos só para nós. Pia, tanque de lavar louça e outros confortos que normalmente só lembramos quando nos faltam. A princípio ficaríamos somente a primeira noite, mas acabamos ficando todo o tempo.
-- Em julho nós vamos aos cinco pontões.
-- Também estou nessa -- incluí-me na hora.
Passou o tempo e o grupo acabou definido: Gustavo, Ivan, Ricardo e eu. A época: início de julho. O objetivo: subir os cinco pontões. Um objetivo ambicioso para uma semana de escaladas. Foca, Filhote, Língua de Boi, Rachado e Grande. Não nesta ordem, pois decidimos subir o Rachado em primeiro lugar, por ser fácil e permitir um descanso da viagem ao mesmo tempo que nos ambientaríamos.
Comida comprada, tudo arrumado nos carros (ou quase tudo), partimos domingo às 04:30. Rio, Cachoeiro do Itapemirim (maravilhoso Itabira!), Castelo (Pedra do Fio!), Afonso Cláudio (Três Pontões!) e finalmente, depois de passar por Itaguaçú e Itarana chegamos a Patrimônio de Cinco Pontões em Laranja da Terra, após inúmeras paradas para fotografias. Anoitecia, e os cinco pontões destacavam-se magníficos contra o céu violeta já coalhado de estrelas. Imenso e profundo, o céu daquele sertão, perdido ao pé do Caparaó. Estrelas piscavam no recorte desenhado pela silhueta negra das montanhas. Tudo ainda desafio e esperança...
Hospedamo-nos na casa do Alemão (Jacimar Casa Grande). ótima pessoa, alma ainda maior que o nome, que socorrera o Ricardo e André Ilha após uma espetacular capotagem dois anos antes. Não esperávamos o conforto que, após a longa viagem, foi um bálsamo. Chuveiro precário, mas chuveiro! Quartos só para nós. Pia, tanque de lavar louça e outros confortos que normalmente só lembramos quando nos faltam. A princípio ficaríamos somente a primeira noite, mas acabamos ficando todo o tempo.
Grande Alemão!
Segunda feira partimos para o Pontão Rachado. Marcamos a trilha no pasto ao pé da Foca e logo encostamos na pedra. Vislumbramos os primeiros lances que faríamos no dia seguinte e adivinhamos o resto. Dali continuamos, passando por baixo da Foca, alcançando a base do Filhote e seguindo pela Língua de Boi até o início da grande calha que leva ao cume do Pontão Rachado. Talvez uns 200 m de curtas seqüências de chaminés e um costão de uns 100 m até o cume. Alcançado o primeiro objetivo. Modesto e simples, mas um maravilhoso cume. Vista lindíssima para o anfiteatro de agulhas que formam o Pontão Grande. No fundo, a Agulha 17 de Julho (1970) destacava-se, lembrando-me o dia em que todo o povo da região respondeu ao nosso foguetório com tiros, rojões e gritos. Para mim ela representava o começo de tudo, um tempo já longínquo.
À noite, sonhos alucinantes visitaram-me no sono. O avião em que viajava estava caindo e eu não conseguia afivelar o cinto de segurança... Representação dantesca dos meus receios pelo dia seguinte. A Foca representava um desafio de 400 m de escalada com um grampo de ½" ou 3/8" a cada cinqüenta metros. Costuras só em grampinhos de ¼" de longe em longe! Proibido cair...
às 4:30 levantamo-nos, preparamos tudo e, escuro ainda, partimos. O alvorecer encontrou-nos na base. Chegara a nossa vez. Gustavo e Ivan foram à frente, Ricardo e eu na 2a cordada. Quatro esticões para cada um. Aos poucos fomos ficando acostumados aos grampinhos de ¼" e ao estilo ousado da escalada. Dividir sempre o peso nos três apoios fixos, esperar sempre a ruptura de uma agarra, (quantas quebraram !), a surpresa a cada passo. A confiança do meu companheiro dobrava a minha, a certeza de não cair porque nós dois acreditávamos nisto. E vice versa no esticão seguinte, até o momento indescritível de dominar a última agarra e pisar no cume. Vencemos! Um jogo de confiança, quatro parceiros, quatro amigos e o orgulho de poder dizer, no aperto de mãos ao cume:
– Mais uma!
Depois, a descida, com suas diagonais vertiginosas, e a caminhada de volta, já à noite. Parabéns ao Rodolfo, Rogério, Dudu e Paulista. Grande conquista.
Em casa, orgulhosos do feito, comemoramos com o Alemão saboreando um delicioso copo de vinho português. Bem merecido!
Quarta feira a manhã já era velha quando reiniciamos a caminhada, vergados ao peso dos inúmeros pitons, mosquetões, cordas e uma longa vara de bambu, equipamentos indispensáveis a quem quiser fazer o teto do Filhote. Na base armei a alça de corda no bambu e, sob a inseparável câmara fotográfica do Ivan lacei o grampo conquistado pela raiz de outrora. Pronto! A fenda e o teto estavam ao nosso alcance. Agora era aproveitar o resto da tarde ganhando alguns metros de teto. Gustavo assim fez até ser visitado pelas temíveis abelhas, guardiãs daquele pico! Recuamos.
A quinta feira encontrou-nos de novo na base, hesitando em retomar o avanço sob a ameaça do ataque apícola. Mas elas tinham mais o que fazer, parece, e deixaram-nos, milagrosamente, em paz. Gustavo em poucas horas venceu os 36 m de teto, atingindo o grampo final. Ricardo subiu limpando o material e logo estava dando segurança para o lance seguinte, bem difícil. Os dois deixaram uma corda fixa no final do teto e seguiram adiante. Ivan e eu subiríamos de Jumar.
Foi então que a Montanha usou de suas últimas armas para defender-se. Ao final da subida, mal tive tempo de perceber o puído na corda. Avancei o Jumar meio metro a mais e subitamente caí. Fiquei perplexo de encontrar-me vivo 3 m abaixo! A capa da corda rompera-se, mas a alma retinha-me uns 30 m acima da base. Olhei para aquele feixe branco de cordinhas entrelaçadas e senti-me terrivelmente inseguro. Examinei à minha volta mas nada havia de melhor do que aquele resto de corda que a pedra afiada tentava ainda cortar a cada movimento meu. Descer era a única solução, e o mais rápido possível, antes que a bênção que me havia poupado se esgotasse. Armar o oito, soltar-me dos Jumares, Prussiks, largar as escadinhas e descer, descer, descer...
Já em segurança na base, aos gritos conseguimos explicar aos companheiros que não podíamos subir. Eles foram ao cume, mesmo sem comida e água, mas na volta tiveram a corda presa pelo nó. Felizmente eles haviam chegado à ponta da outra, e puderam, exaustos, rebocar uma corda intacta que tínhamos na base e juntar-se a nós.
à noite refizemos as contas e decidimos. Sexta feira subiríamos o Pontão Grande, para descansar, e voltaríamos todos ao Filhote no sábado, guardando a Língua de Boi para o domingo. Assim dito, assim feito, e o dia seguinte nos viu percorrer os costões do Pontão Grande. Ainda tivemos o privilégio de admirar uma imensa paca que, fugindo espavorida, quase passou por baixo das pernas do Ricardo indo esconder-se numa moita de gravatás. Esta parte da história combinamos omitir ao povo da região, em solidariedade ao pobre roedor que tão habilmente vinha escapando da sanha dos caçadores.
No sábado retomamos o ataque ao Filhote, que finalmente deixou-se vencer. Lá estavam o livro de cume e a flâmula do CEC, que trouxemos de volta. Lá deixamos um escudo do clube, assinado por todos, até que outra cordada cumpra a tradição de deixar sua lembrança e resgatar a nossa. Descemos sem dificuldades pela variante dos Petropolitanos.
Nosso último desafio foi vencido no domingo. Língua de Boi, cume magnífico, talvez o mais impressionante. No livro de cume, mesmo molhado e semidestruído, pudemos ler as impressões das cordadas que lá estiveram. Pouca gente, nestes 25 anos! Tão estragado estava o livro que decidimos traze-lo de volta ao CEC, não sem antes ter deixado provisoriamente umas folhas nas quais copiamos os nomes e datas de todos que lá estiveram. Fica uma tarefa para a próxima cordada: levar um novo livro. Nobre motivo, além de todos os que já temos...
A estrada de volta encontrou-me só. Decidi voltar um dia antes dos companheiros. Desci por Joatuba, serra que havia percorrido na primeira vez que ali chegara. Olhando para trás, à luz suave da manhã que nascia, revi os mesmos contornos de outrora. Emocionado senti que o tempo passou...
Mas não passou em vão.
Segunda feira partimos para o Pontão Rachado. Marcamos a trilha no pasto ao pé da Foca e logo encostamos na pedra. Vislumbramos os primeiros lances que faríamos no dia seguinte e adivinhamos o resto. Dali continuamos, passando por baixo da Foca, alcançando a base do Filhote e seguindo pela Língua de Boi até o início da grande calha que leva ao cume do Pontão Rachado. Talvez uns 200 m de curtas seqüências de chaminés e um costão de uns 100 m até o cume. Alcançado o primeiro objetivo. Modesto e simples, mas um maravilhoso cume. Vista lindíssima para o anfiteatro de agulhas que formam o Pontão Grande. No fundo, a Agulha 17 de Julho (1970) destacava-se, lembrando-me o dia em que todo o povo da região respondeu ao nosso foguetório com tiros, rojões e gritos. Para mim ela representava o começo de tudo, um tempo já longínquo.
À noite, sonhos alucinantes visitaram-me no sono. O avião em que viajava estava caindo e eu não conseguia afivelar o cinto de segurança... Representação dantesca dos meus receios pelo dia seguinte. A Foca representava um desafio de 400 m de escalada com um grampo de ½" ou 3/8" a cada cinqüenta metros. Costuras só em grampinhos de ¼" de longe em longe! Proibido cair...
às 4:30 levantamo-nos, preparamos tudo e, escuro ainda, partimos. O alvorecer encontrou-nos na base. Chegara a nossa vez. Gustavo e Ivan foram à frente, Ricardo e eu na 2a cordada. Quatro esticões para cada um. Aos poucos fomos ficando acostumados aos grampinhos de ¼" e ao estilo ousado da escalada. Dividir sempre o peso nos três apoios fixos, esperar sempre a ruptura de uma agarra, (quantas quebraram !), a surpresa a cada passo. A confiança do meu companheiro dobrava a minha, a certeza de não cair porque nós dois acreditávamos nisto. E vice versa no esticão seguinte, até o momento indescritível de dominar a última agarra e pisar no cume. Vencemos! Um jogo de confiança, quatro parceiros, quatro amigos e o orgulho de poder dizer, no aperto de mãos ao cume:
– Mais uma!
Depois, a descida, com suas diagonais vertiginosas, e a caminhada de volta, já à noite. Parabéns ao Rodolfo, Rogério, Dudu e Paulista. Grande conquista.
Em casa, orgulhosos do feito, comemoramos com o Alemão saboreando um delicioso copo de vinho português. Bem merecido!
Quarta feira a manhã já era velha quando reiniciamos a caminhada, vergados ao peso dos inúmeros pitons, mosquetões, cordas e uma longa vara de bambu, equipamentos indispensáveis a quem quiser fazer o teto do Filhote. Na base armei a alça de corda no bambu e, sob a inseparável câmara fotográfica do Ivan lacei o grampo conquistado pela raiz de outrora. Pronto! A fenda e o teto estavam ao nosso alcance. Agora era aproveitar o resto da tarde ganhando alguns metros de teto. Gustavo assim fez até ser visitado pelas temíveis abelhas, guardiãs daquele pico! Recuamos.
A quinta feira encontrou-nos de novo na base, hesitando em retomar o avanço sob a ameaça do ataque apícola. Mas elas tinham mais o que fazer, parece, e deixaram-nos, milagrosamente, em paz. Gustavo em poucas horas venceu os 36 m de teto, atingindo o grampo final. Ricardo subiu limpando o material e logo estava dando segurança para o lance seguinte, bem difícil. Os dois deixaram uma corda fixa no final do teto e seguiram adiante. Ivan e eu subiríamos de Jumar.
Foi então que a Montanha usou de suas últimas armas para defender-se. Ao final da subida, mal tive tempo de perceber o puído na corda. Avancei o Jumar meio metro a mais e subitamente caí. Fiquei perplexo de encontrar-me vivo 3 m abaixo! A capa da corda rompera-se, mas a alma retinha-me uns 30 m acima da base. Olhei para aquele feixe branco de cordinhas entrelaçadas e senti-me terrivelmente inseguro. Examinei à minha volta mas nada havia de melhor do que aquele resto de corda que a pedra afiada tentava ainda cortar a cada movimento meu. Descer era a única solução, e o mais rápido possível, antes que a bênção que me havia poupado se esgotasse. Armar o oito, soltar-me dos Jumares, Prussiks, largar as escadinhas e descer, descer, descer...
Já em segurança na base, aos gritos conseguimos explicar aos companheiros que não podíamos subir. Eles foram ao cume, mesmo sem comida e água, mas na volta tiveram a corda presa pelo nó. Felizmente eles haviam chegado à ponta da outra, e puderam, exaustos, rebocar uma corda intacta que tínhamos na base e juntar-se a nós.
à noite refizemos as contas e decidimos. Sexta feira subiríamos o Pontão Grande, para descansar, e voltaríamos todos ao Filhote no sábado, guardando a Língua de Boi para o domingo. Assim dito, assim feito, e o dia seguinte nos viu percorrer os costões do Pontão Grande. Ainda tivemos o privilégio de admirar uma imensa paca que, fugindo espavorida, quase passou por baixo das pernas do Ricardo indo esconder-se numa moita de gravatás. Esta parte da história combinamos omitir ao povo da região, em solidariedade ao pobre roedor que tão habilmente vinha escapando da sanha dos caçadores.
No sábado retomamos o ataque ao Filhote, que finalmente deixou-se vencer. Lá estavam o livro de cume e a flâmula do CEC, que trouxemos de volta. Lá deixamos um escudo do clube, assinado por todos, até que outra cordada cumpra a tradição de deixar sua lembrança e resgatar a nossa. Descemos sem dificuldades pela variante dos Petropolitanos.
Nosso último desafio foi vencido no domingo. Língua de Boi, cume magnífico, talvez o mais impressionante. No livro de cume, mesmo molhado e semidestruído, pudemos ler as impressões das cordadas que lá estiveram. Pouca gente, nestes 25 anos! Tão estragado estava o livro que decidimos traze-lo de volta ao CEC, não sem antes ter deixado provisoriamente umas folhas nas quais copiamos os nomes e datas de todos que lá estiveram. Fica uma tarefa para a próxima cordada: levar um novo livro. Nobre motivo, além de todos os que já temos...
A estrada de volta encontrou-me só. Decidi voltar um dia antes dos companheiros. Desci por Joatuba, serra que havia percorrido na primeira vez que ali chegara. Olhando para trás, à luz suave da manhã que nascia, revi os mesmos contornos de outrora. Emocionado senti que o tempo passou...
Mas não passou em vão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por participar!!!